Paulo Moreira Leite: Dilma na campanha mais dura

Paulo Moreira Leite: Dilma na campanha mais dura

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“Obrigado por entender a importância da vitória de hoje”, disse a presidente, ao ser cumprimentada pela vantagem de 8 pontos no 1º turno.

Paulo Moreira Leite

PT caminhou para as urnas com um horizonte otimista sobre o desempenho de Dilma Rousseff. Uma parcela do partido até imaginava que a candidata poderia vencer em 1º turno. Saiu da apuração diante do pior resultado desde que Luiz Inácio Lula da Silva chegou ao Planalto, em 2003.

A presidente ficou com 41,59% dos votos contra 33,55% para Aécio Neves – a menor parcela de votos e uma das menores a vantagens alcançados por um candidato do PT depois que Lula deixou a condição de eterno perdedor em pleitos presidenciais para a de concorrente imbatível e padrinho sem igual. Havia festa nas reações do PSDB em São Paulo e um ambiente de perplexidade e dúvida entre os petistas que se reuniram com Dilma na noite de domingo, dia 5/10, no teatro de eventos do Royal Tulipe, em Brasília.

Convém não esquecer, contudo, que, quando o 1º turno terminou, Dilma se encontrava a 8 pontos e uns quebrados da vitória. A distância, para Aécio, era duas vezes maior: 16 pontos e alguma coisa.

Dilma teve perto de 5 milhões de votos a mais em 2010, quando venceu o 1º turno por 46,9% contra 32,6% de José Serra. Em 2002, Lula foi para o 2º turno com 46,44% contra 23,19% sobre José Serra. Em 2006, a diferença foi da mesma ordem de grandeza do que em 2014: 48,6% contra 41,6%. Mas Lula estava mais perto de vencer naquela época, a primeira eleição depois das denúncias da Ação Penal 470. Apesar da diferença menor, faltaram menos de 2% dos votos para liquidar a disputa em 1º turno. O pleito de 2006 entrou para os anais do Partido dos Trabalhadores como uma disputa que só foi para o 2º turno por causa do escândalo dos aloprados, que explodiu às vésperas da votação. Pelos números de ontem [5/10], a distância superior a 8 pontos mostra que, no fim das contas, uma vitória em 1º turno estava fora de toda cogitação realista, pelo menos depois que Marina Silva entrou na disputa.

Em 2010, a visão desfeita de uma vitória no 1º turno deixou um rastro de desorientação. Dilma não tinha o que dizer numa entrevista aos jornalistas e o rosto amarrado sublinhava a decepção. Na noite de ontem[5/10], quando recebeu cumprimentos pelo resultado da votação – merecidos afinal de contas, pois ficara em primeiro lugar – Rousseff reagia com simplicidade. “Obrigada, querido. Você compreende a importância da vitória de hoje.” Antes de entrar no palco, a presidente-candidata chegava a dançar nos bastidores, ao som da música da campanha.

Deixando de lado o ambiente de sonho dos últimos dos últimos dias, com o qual a presidente e seus assessores próximos nunca partilharam, Dilma e o PT sempre tiveram certeza de que em 2014 iriam enfrentar a eleição mais difícil de todas depois que o partido se tornou governo federal. Sob o risco de enfrentar uma quarta derrota consecutiva para o condomínio Lula-Dilma, seus adversários montaram um bloco para agir de forma unitária, com a coesão possível. Se os meios de comunicação nunca torceram por Lula-Dilma, é difícil imaginar um Manchetômetro tão agressivo como o de 2014.

Depois de agosto, o partido chegou a comportar-se como um paciente que, sofrendo de uma moléstia incurável, demonstra os temores aflitos de quem foi desenganado pelos médicos quando a ascensão de Marina logo após a morte de Eduardo Campos ameaçou derrubar Dilma. Lula precisou colocar ordem na casa numa plenária de dirigentes, em São Paulo, quando cobrou mais empenho do candidato a governador Alexandre Padilha na campanha de Dilma. Lula também cobrou que os petistas demonstrassem orgulho de serem petistas. Após o desempenho real de Padilha, ontem [5/10], que envergonhou o conjunto dos institutos de pesquisa, era difícil negar que sua oratória teve efeito.

Marcando uma diferença com Lula, e mesmo com o marqueteiro João Santana, na hora mais difícil Dilma foi para cima de Marina. O efeito foi selecionar os vencedores de ontem.

“Agora vamos para a nossa luta tradicional,” dizia Gilberto Carvalho, circulando entre militantes que foram ao Royal Tulipe. “Estamos habituados a enfrentar o PSDB e vencer.” Para Ricardo Berzoini, será a luta “do pobre contra o rico, do bem contra o mal.” É a identidade do PT, integrada a história do partido. Mesmo atingido por escândalos midiáticos que não fazem justiça ao desempenho de outros partidos – que possuem um número infinitamente maior de políticos condenados pela Justiça – o PT segue identificado como a legenda que mais combate a injustiça e a desigualdade.

O PT sempre teve receio de enfrentar Marina, no 2º turno, pela convicção de que numa segunda rodada o PSDB iria fazer o voto útil e se deslocar em massa num eventual apoio a candidata do PSB para derrotar Dilma – mas a recíproca dificilmente seria verdadeira, já que uma parcela dos eleitores de Marina tem uma história à esquerda e uma imensa dificuldade de apoiar o partido que se tornou o porta-voz orgânico dos grandes empresários do país. A dúvida, ontem, não envolvia a discussão sobre o acerto em priorizar o confronto com Marina no 1º turno. Mas em avaliar as dificuldades que os conflitos do 1º turno poderão trazer para o segundo, quando será preciso procurar aliados entre os adversários da véspera.

O 2º turno começa com uma complicação a mais para Dilma. Aécio é um adversário em ascensão. Seus 33,5% são produto de um salto dos últimos dias, o que coloca a pergunta sobre a capacidade que o PT terá para interromper o avanço do adversário.

Os debates pela tevê demonstraram que Dilma consegue ir bem em confrontos diretos com Aécio e ela aproveitou o discurso no Royal Tulipe para fazer isso, demarcando o terreno político daqui para a frente. Acusou o governo do PSDB de se “ajoelhar diante do FMI”. Disse que no governo de Fernando Henrique os tucanos “elitizaram a universidade.” Dilma também disse que poderia aceitar muitas mudanças na economia mas jamais praticaria novidades como “desemprego e arrocho salarial.”

O 2º turno de 2014 será uma disputa relativamente curta, de duas semanas. A propaganda política na tevê retoma na quinta-feira. As campanhas já acertaram a realização de quatro debates até 26 de outubro. Até lá, o eleitor deve se preparar. O 2º turno da mais difícil campanha dos últimos 12 anos será a mais agressiva e mais disputada desde 1989, aquela que reuniu Fernando Collor e Luiz Inácio Lula Silva, produzindo episódios constrangedores que o eleitor não tem o menor interesse em repetir.

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